26 de março de 2011

O Edil

Acácio Dias era um dos sócios da Casa Dias, Lda., mas foi também durante algum tempo vereador da Câmara Municipal de Nampula. Levou o seu cargo muito a sério e também algumas "causas" a peito.
No recorte de jornal que aqui junto, a notícia sobre um dos projectos que lhe foi mais "caro", o Parque Felgueiras e Sousa.

NAMPULA A CIDADE MAIS FLORIDA DE MOÇAMBIQUE

Todos os assuntos eram objecto de discussão, como habitualmente, na mesa fronteiriça à minha. Indiferente, ia saboreando o meu café com a pachorra natural dos Sábados à tarde.
A conversa não era comigo mas de um momento para o outro, a minha atenção despertou quando o sr. eng. Sustentava, com argumentos de ocasião, a sua tese. O parque Felgueiras e Sousa, um absurdo. Praça Salazar, uma estupidez em tamanho natura. Jardins e flores, para quê? Perguntava o referido senhor. Uma Câmara, parca de rendimentos nunca devia nem podia dar-se a tais luxos. Aqueles terrenos, no meio da cidade, postos em praça, ter-lhe-iam rendido uma boas dezenas de contos, que poderiam satisfazer outras necessidades prementes que, até hoje, não tiveram solução adequada. A Câmara preferiu contrair encargos com a manutenção dos tais jardins, quando poderia obter lucros certos. Duplo prejuízo.
A minha intromissão no assunto seria indelicadeza, embora a vontade fosse muita de lhe poder dizer:
Tem muita razão, sr. Engenheiro. A sua dialéctica está absolutamente correcta... comercialmente. Não concordo apenas com a pergunta “jardins e flores para quê?”. Malesberbes, ministro de Luís XVI, numa discussão orçamental, já com sinais de impaciência perguntou:”... mas, por amor de Deus, respondei-me: Há alguém no mundo que não goste de flores?” Até hoje, ninguém tinha respondido à chamada. A flor de Lotus simbolizou um pais; um açafate de flores suscitou a criação do capitel coríntio. A cana de S. José floriu. Alem das figuras extremamente humanas de Degas, das primaveras de Renoir, dos salpicos de Van Gogh e dos verdes e amarelos de Gauguin, desde, em suma Velásquez aos mais contemporâneos – com excepção daqueles que, para encobrirem a sua mediocridade, aos borrões dos seus pincéis chamam herméticos, metafísicos, intimísticos e surrealistas – nenhum resistiu à tentação de reproduzir em tela o encanto de uma flor. Até Picasso o fez, na sua primeira fase! Pena é que, nos gabinetes de Hitler e Goering, nunca tenham sido vistas.
Não nos podemos admirar, portanto, que Nampula, uma bela e jovem rapariga de vinte anos apenas, exigisse um diadema de flores: e a Câmara, que nasceu para a servir, lhe tenha feito a vontade. Hoje já ela pode dizer, sem o perigo de contestação “o que podia ser o slogan dum cartaz de turismo”: Sou Nampula, a cidade mais florida de Moçambique.

Isto quanto a flores, sr. Engenheiro. Quanto aos jardins, muito teríamos a dizer – só por agora – as dezenas e dezenas de crianças, o quanto lhes tem sido salutar um local onde lhes é possível correr, saltar e conviver, fora dos caixotes de cimento armado, sem ar, sem jardim, a quem chamam “flats”.
Eu, sr. Engenheiro, estou com a Câmara. Saúdo os seus vogais e em especial o vereador Acácio Dias, para quem vai um muito obrigado pela sua iniciativa de tornar mais linda esta linda terra, dotando-a com parques e jardins floridos.
C. RODRIGUES

19 de março de 2011

Banco Nacional Ultramarino

A Casa Dias tinha uma óptima relação com os bancos em Nampula, mas com o BNU havia uma relação muito mais que institucional.
No mundo dos negócios nada acontece por acaso, e esta ligação começou pouco antes do Natal, no princípio dos anos 60.

Depois da loja fechar e depois de terem ido a casa jantar, o meu pai e o meu tio Francisco, voltaram para à loja.
Era época de Natal e estava um camião de brinquedos, à porta, para descarregar, como era habitual nessa altura, os dois descarregaram os camião, colocando as caixas no chão à porta da loja, para depois as carregar para dentro.
Estavam já a levar as caixas para dentro da loja, quando passou à porta da loja um director do BNU que estava de visita a Nampula, foi falar com os dois irmãos e ficou impressionado com o afinco no trabalho que eles mostravam. Pediu-lhes para aparecerem no banco no dia seguinte.
Assim foi, no dia seguinte estavam no banco e foi-lhes oferecido um financiamento.
Segundo conta o meu pai, perguntaram-lhes que montante precisariam, ao que o meu pai respondeu (atirando um número mais ou menos ao calhas, mas elevado): "cem contos". Como resposta recebeu: "Vamos pedir 200 contos!" A autorização para os empréstimos passava pelo cunho da Metrópole, mas o aval era dado pelos directores e gerentes em Moçambique.
Foi pouco depois concedido à Casa Dias um financiamento de 150 contos. Ao que parece bastante dinheiro para a época!
Assim começou a ligação entre dois parceiros e que continuou ao longo dos anos.
A Casa Dias oferecia tradicionalmente um jantar de homenagem ao BNU, por altura no seu aniversário.

17 de março de 2011

Em todas as famílias, creio eu, haverá sempre histórias para contar, umas mais tristes outras mais alegres. Os Dias têm algumas que vão passando de geração em geração, especialmente as que têm algo de anedótico.
O “especialista” das respostas sempre prontas e que davam azo às melhores anedotas da família era o meu avô Francisco.
Na sua loja de Braga, onde vendia tecidos, passaram-se alguns episódios dignos de nota.

O meu preferido, é o da seda da China.

Certo dia atendia o meu avô uma cliente que queria um tecido para mandar fazer um vestido. Esta cliente já era bem conhecida na casa, e todos sabiam que era um pouco esquisita, gostava de ver todos os tecidos possíveis e tinha alguma dificuldade em decidir-se. O meu avô era uma pessoa razoavelmente paciente, no entanto, com um sentido de humor algo peculiar.
Com esta cliente, desta vez, a venda estava difícil, a cliente não se decidia e queria ver cada vez mais tecidos, alegando que não era bem o que queria.
A certa altura o meu avô, farto de atender a cliente, diz-lhe que vai buscar uma seda especial. Foi ao armazém buscar um corte de seda, tão especial era que já tinha uns anos de casa sem se vender!.
Apresenta o tecido à cliente, “Minha Senhora, seda autêntica da China!”, a cliente olha para o tecido, diz que é muito bonito, mas lá vem as dúvidas da senhora, e pergunta:
“Oh Senhor Dias, mas isto é mesmo seda da China?”
O meu avô prontamente lhe responde: “Oh minha Senhora, seda autêntica da China, cheire por favor, até cheira a amarelo!”
黄色
Este tipo trocadilho, (o tecido velho que normalmente fica amarelo, e os chineses amarelos) com resposta pronta e convincente, é apanágio do sentido de humor do meu avô. É preciso presença de espírito e ao mesmo tempo um controlo fantástico para se conseguir dizer isto, sem titubear e ao mesmo tempo se manter sério. Ele conseguia-o na perfeição.

11 de março de 2011

A Feira

Numa das minhas conversas com o meu pai, para memoria futura, perguntei-lhe como e porque é que se abriu a Feira.

Aquele espaço estava a ser utilizado como armazém e para a revenda. Havia também a necessidade de libertar a Sede da venda dos artigos mais baratos pois o espaço estava a tornar-se pequeno para a clientela.
Decidiram então abrir uma casa mais popular, onde se vendessem os artigos mais baratos.
O nome FEIRA, veio da expressão, “isto parece uma feira!”, porque logo no início a mercadoria foi colocada em tábuas de madeira assentes em malas de porão! Só mais tarde foram mandadas fazer as mesas próprias para o efeito.
Para quem se lembra os artigos na Feira estavam espalhados por toda a loja, e os clientes escolhiam e levavam à caixa para pagar.

Falando em chitas, este tecido era o chamariz daquela casa, as chitas sempre foram vendidas a preço de custo ou mesmo abaixo. (quem diria dumping!), mas pouca gente levava só chitas, para chegar ao balcão onde elas estavam tinham que atravessar a loja até ao fundo, passando entre as mesas que “populavam” por toda o sítio, e lá compravam um par de meias, um pára-mamas, um calção, etc, etc. De facto, fazia-se na Feira, à custa das chitas, um pouco daquilo que nos fazem hoje os supermercados com as “promoções e outras complicações”.

Na porta da Feira estava sempre o Manel, alto e forte, com cara de pouco amigos, obrigava os clientes a deixar as bacias, alguidares e sacos à porta, e de vez em quando tinha que fechar a porta porque a casa estava muito cheia, quase parecia uma entrada de discoteca nos dias de hoje.

O Gomes, minhoto de Monção, o gerente, andava sempre de um lado para o outro. Tinha como seu braço direito a Alina, uma mulher incrível, com uma capacidade de trabalho extraordinária.
O Chico, que saudades! Claro que pouca gente se lembra dele a menos que tenha trabalhado lá, o Chico, pai do Francisco Chico, foi um dos primeiros empregados da casa, era amoroso, tinha um cuidado incrível connosco, as suas meninas. Mais tarde começou a ter problemas com a bebida, poucos dias trabalhava, mas aparecia sempre para receber o ordenado (que diga-se de passagem lhe foi sempre pago). Numa coisa ele não falhava, todos os Sábados de manhã ia à estação de comboios buscar as cangarras de caranguejo, que levava a nossa casa de seguida.

Perdoem-me aqueles que não menciono, mas os anos passaram e a memória foi-se especialmente para nomes, prometo continuar a minha pesquisa e voltar a escrever sobre as tantas e tantas pessoas que passaram pela Feira.

Reviver o passado

Que bom é recordar!
Mais ainda, que bom é voltar a encontrar os amigos e as pessoas que de alguma forma fizeram parte desta história.

Hoje mesmo, falei com o Manel Franqueira, herdeiro dos Armazéns Franqueira & Gameira, e filho dos nossos grandes e saudosos amigos, Manuel e Zulmira Franqueira. Como ele me dizia à pouco, a ligação é tão grande que somos como família, e é verdade.

Manel, obrigada por teres ligado. Vamos com toda a certeza ter oportunidade de recordar, juntamente com os meus pais e tia, muitos dos episódios que marcaram as nossas famílias.

Bem hajas!

8 de março de 2011

Aniversário

Faz hoje exactamente 87 anos que nossos Avós, Palmira e Francisco José de casaram, em Braga.
Ao longo do tempo, fomos festejando sempre esta data, estivessemos onde estivessemos - os de África brindavam e tocavam o "tantan" e os de cá, brindavamos e tocavamos o tantan, lembrando os "presentes e ausentes"...
A verdade é que, fisica ou espiritualmente unidos, sempre celebramos o casamento dos Avós..., mesmo hoje lembramos, quando já só estão nos nossos corações!
Lembro bem quando, em 8 de Março de 1974, celebramos as Bodas de Ouro dos Avós... Pela primeira vez, os Tios e primas de Moçambique vieram todos juntos, já que normalmente vinha uma das familias apenas.
Junto dos Avós festejamos a sua felicidade, o seu testemunho de amor, coragem e união ao longo da vida... juntos, com muitos outros familiares e Amigos, celebramos a vida e a história da nossa Familia: quatro filhos, três noras e um genro, sete netas e um neto..., e os Avós!
Muitos e bons!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Foi deste exemplo que sempre nos orgulhamos e hoje passamos a nossos filhos que conhecem as histórias, as regras, as caracteristicas de cada um dos Dias fundadores, como se tivessem privado com eles.
Sabemos do seu carinho, do seu bom humor, do seu trabalho, do seu rigor... e nossos filhos sentem orgulho quando lhes dizemos que nisto ou naquilo se parecem aos Avós. Valeu a pena!

Aos Avós devemos a fundação - a nós é pedida a continuidade.
Aos Avós devemos o exemplo - a nós é exigida a continuidade.
Aos Avós o nosso beijo, hoje, que sabemos eles receberão com o sorriso e a benção de sempre.
Faz hoje 87 anos que nossos Avós, Palmira e Francisco casaram, em Braga. Lembro que todos os anos festejavamos esta data em familia, e juntos, brindavamos "pelos presentes e pelos ausentes", com um toque nos tubos de metal que soavam cerimoniosa e respeitosamente... esses tubos que a Malen guarda em sua casa, com muito carinho e que nós, netos, chamavamos simplesmente de tantan, se a memória me não falha! Brindavamos sempre pelos ausentes, que queria dizer pelos filhos e netos em África, lá longe, de quem recebíamos noticias por carta e gravadas em bobines de fitas que chegavam de longe! Lembro bem quando, em 1974, nos juntamos todos para festejar as Bodas de Ouro dos Avós: e todos somos muitos!!!!! Quatro filhos, três noras, um genro, sete netas e um neto...e os Avós! Conseguir que viessem os dois Tios de Moçambique, ao mesmo tempo... foi a 1ª vez! Junto a nós estavam mais familiares e muitos amigos, incluindo o Sr Manuel Franqueira e a SRª D. Zulmira, o João Gonçalves e a D. Julinha ,... De todos e em todos há saudade... Quando, passados todos estes anos, continuamos a lembrar e a intimamente celebrar o casamento dos Avós, é porque realmente valeu a pena, é porque foram grandes, é porque permanecem vivos nos nossos corações e vidas - nós que os lembramos e vamos dando a conhecer aos nossos filhos que não puderam já privar com eles. Todos sabem estas histórias da Familia. E todos se orgulham dela!

(Na foto as sete netas e o neto)

MMDC

As Senhoras da Sede

O tempo passa as memorias vão-se esbatendo, mas há imagens que nos ficam para toda a vida. A Casa Dias é para alguns macuas, a loja onde comprou a sua primeira farda da Mocidade, para outros onde comprava os carrinhos Dinky Toys e para outros ainda era onde iam fazer as compras de Natal, poderia continuar a citar muitos deste tipo de comentários que me vão chegando.
Para mim a Casa Dias era uma extensão da minha casa, e as memórias e imagens que me ficaram têm mais a ver com os meus pais, os meus tios e com as pessoas que lá trabalhavam, do que com o que lá se vendia.

Este preambulo para começar a recordar algumas das pessoas que trabalhavam naquela casa e das quais me lembro bem.

Quando precisávamos de roupa interior, lá chegávamos à loja e de mansinho íamos dizendo, “eu precisava de ...”, e em geral respondiam-nos “vai ter com a D. Dulce”, e era o que queríamos ouvir, a D. Dulce tinha uma paciência infinita connosco. Uma queria o soutien cor da pele, outra gostava mais dos conjuntos floridos, uma gostava da Triumph a outra da Maidenform, e a outra preferia a Tebe. Esta paciência tinha-a também com os clientes, vender roupa interior e lingerie naquele tempo era algo muito "reservado".


A secção que era o meu fascínio, era a perfumaria, colocada primeiro no lado direito da loja, passou depois para a parte central, sempre servida pela Glória, que para nós era uma compincha. Estava sempre disponível, mostrava-nos os perfumes, os cremes e toda a parafernália associada, deixava-nos cheirar, explicava como se usavam e para além disso deixava-nos “ajudar”: a fazer embrulhos; a expor; a limpar; a arrumar. A imagem que ainda hoje tenho é de uma mulher sempre muito bem arranjada e sempre bem disposta.


A Emília era mais uma tia, penso que era a única que tinha alguma mão em nós, talvez por ser uma pessoa muito afável, mas ao mesmo tempo muito séria, conseguia impor algum respeito e de uma maneira muito subtil metia-nos na ordem, para além disso conhecia muito bem os hábitos da casa e não nos deixava fazer o que sabia que não estávamos autorizadas. Mesmo assim passávamos também muito tempo com ela, também nos deixava “ajudar”. Era sem dúvidas uma das “almas” daquela casa, tinha muita clientela fidelizada que só ela atendia.



Estas eram talvez os três "pilares" da Casa Dias na Av. José Cabral, lembro-me também da Filomena, tenho dela uma recordação muito suave, uma menina de sorriso doce, infelizmente deixou-nos cedo demais, e deixou-nos muitas saudades.

6 de março de 2011

O escritório

Na página anterior publiquei uma foto do meu avô e do seu grande amigo Manuel Franqueira, a minha prima Manuela comentou que a foto foi tirada no casamento da mãe dela, a minha tia Marucha, a irmã mais nova e única do meu pai. Eu comentei que a única coisa que sabia era que aquela foto estava no escritório do meu pai e do meu tio na Casa Dias.
Nem de propósito, hoje, ao passar as fotos do arquivo encontrei esta fotografia do escritório, que deve ter sido tirada no princípio dos aos 60, e como me lembrava lá está em cima da secretaria a foto dos dois homens que possibilitaram a abertura da Casa Dias.

Este escritório, ao fundo da loja à esquerda, tinha um aspecto de Bunker, não tinha janelas e era escuro, mas era ali o centro nevrálgico daquela casa.
Todas as manhãs lá estava alguém (a minha mãe, o meu tio ou o meu pai), a preparar os depósitos nos bancos, ali se faziam reuniões, se recebiam fornecedores ou clientes e dali se geriam as lojas.

O cofre, que estava neste escritório, era um dos meus divertimentos favoritos, o “volante” de abrir o cofre, servia-me como volante de um carro imaginário, servia para me pendurar nele e fazer balançar a porta do cofre para a frente e para trás, e ainda para por os meus pais furiosos, porque de alguma maneira eu conseguia abrir sempre o cofre para brincar, e lá tinham eles que mudar o “segredo”, tempo perdido! Nem eu mesma sei como o abria, nunca soube nenhuma combinação do cofre, comigo o cofre abria sempre! Esta criança era dose...

1 de março de 2011

O princípio

Quando em 1955 o meu pai decidiu abrir o seu negócio em Nampula, era empregado do A. Teixeira e não tinha dinheiro para se estabelecer, muito menos com uma jovem esposa grávida.

Pediu ajuda ao seu pai Francisco José Dias, que tinha um comércio de tecidos em Braga – a Casa Dias. O meu avô era um homem honrado, trabalhador, austero (embora com um sentido de humor inigualável) e totalmente votado à família.
O meu pai sempre foi o sonhador, o ousado e quiçá o mais desobediente dos filhos, ajudar o meu pai a começar um negócio era para o meu avô uma decisão difícil. No entanto, graças ao grande amigo do meu avô o Sr. Manuel Franqueira, dono de uns armazéns de tecidos com o seu nome, na Rua do Almada, no Porto, o meu avô convenceu-se a ajudar o meu pai. E este grande amigo do meu avô também ajudou, pois deu ao meu pai crédito em mercadoria. (Na foto à esquerda Francisco José Dias e Manuel Franqueira)

Para o meu avô esta “aventura” do filho, num lugar tão longe, não o deixava descansado e mandou o outro filho, Francisco José ver como estava o irmão a sair-se.
A loja tinha aberto a 19 de Setembro, o meu tio chega no final do ano, e de facto a loja tinha um “pequeno” problema. No seu pouco tempo de vida, estava quase sem mercadoria para vender.
O negocio estava a correr bem, mas pouco faltava para fechar as portas por falta de mercadoria!
Com algum esforço, e a ajuda de alguns amigos a mercadoria para vender “apareceu” e o negócio continuou. Como conta o meu pai, uma das pessoas que o ajudou foi o Sr. Magalhães que também tinha uma loja comercial, e que tinha em stock alguma mercadoria que cedeu à Casa Dias.
Mas mais uma vez o Sr. Manuel Franqueira veio em auxílio do meu pai, dando-lhe crédito para mais mercadoria. Os Armazéns Franqueira e Gameira, no Porto foram sempre fornecedores de tecidos para a Casa Dias de Nampula, e talvez fosse de lá que saía a mercadoria mais requintada. Com o tempo outros fornecedores se foram juntando e, porque não, ajudando: os armazéns Eugénio Pinheiro em Viana do Castelo, os armazéns JAC do Porto, ASA – Agostinho da Silva Areias de Guimarães, Amadeu Mendes de Vila do Conde e muitos outros, que um dia vou tentar relembrar.

Como nota pessoal, lembro-me da visita que o Sr. Franqueira e a sua esposa Sra. Dona Zulmira fizeram a Nampula, apesar dos meus oito ou nove anos. Este casal recebeu-me em sua casa em Outubro de 1974, quando não pude voltar a Nampula e tive que começar as aulas no Porto.
Para eles a eterna saudade e carinho de todos nós (aqui não tenho dúvidas em falar por toda a família que teve o imenso privilégio de os conhecer).

27 de fevereiro de 2011

Os monos


A quase maioria dos clientes da Casa Dias não conhecia, como é de esperar, o armazém de tecidos que ficava na parte de trás da loja sede na Av. José Cabral.
Nesse armazém para além dos cortes, fazendas, botões, forros, entretelas, e um sem número de artigos, guardavam-se os chamados “monos”, que era tudo aquilo que não se vendia ao longo dos anos, por uma ou outra razão.



Há duas histórias emblemáticas contadas na família sobre uns monos em particular.

A esposa de uma figura pública de Nampula, pediu a dada altura um corte de tecido especial, para um baile que se ia realizar no Clube Niassa e onde esta senhora queria “brilhar”. Como era normal foi pedido para Portugal um corte de tecido com as características desejadas, que passado algum tempo chegou a Nampula. O tecido era deveras vistoso e a cliente ficou encantada com o material, tão encantada estava que quando perguntou o preço o meu pai disse o primeiro valor que lhe veio à cabeça, e pediu 1.000$00 pelo corte.
A senhora ficou algo aflita com o preço, disse que não estava preparada para dar tanto dinheiro por um corte de tecido, mas que gostava tanto dele que ia falar com o marido e que depois dizia alguma coisa. O meu pai tinha pedido muito dinheiro pelo tecido, apesar de ser muito caro para a altura, o preço dado era exorbitante.
No dia seguinte a cliente volta à Casa Dias e diz que falou com o marido e embora tivessem que fazer algum sacrifício para poderem pagar aquele valor, ia levar o tecido. O meu pai teve um rebate de consciência e disse-lhe então que se tinha enganado no preço e que de facto o valor era de 400$00.
Resposta imediata da cliente: “Ah Sr. Dias, eu bem me parecia que havia alguma coisa que eu não gostava neste tecido, não vou levar!”.
E assim ficou aquele mono durante anos no armazém, sempre conhecido como corte da esposa do....

Muita da mercadoria era comprada em lotes, do género, comprava-se um contentor com uma colecção de tecidos e o fornecedor enviava as “tendências” de moda, mas nem sempre estas tendências quadravam com os gostos ou mesmo com o clima da nossa cidade. Num contentor chegaram uma vez uma série de tecidos em lamé carregados de brilho, acompanhados de tecidos às franjinhas e como se não bastasse vinham também umas peles sintéticas muito apropriadas para vistosos casacos ou capas de peles, mas cuja venda era quase impossível.
Ali foram ficando ao longo dos anos, talvez se tenha vendido meio metro aqui ou ali, para fantasias ou coisa do género.
Estes tecidos estavam guardados nuns "penduradores" próprios, uma vez que não podiam sem dobrados ou enrolados.
Um dia houve ordens de cortar todos os tecidos e colocá-los à venda, em promoção, bem à entrada da loja.
Nesse mesmo dia quase toda a mercadoria foi vendida, a bem dizer, evaporou-se!
Por “coincidência” os lamés, as franjinhas e as peles entraram em promoção quando o Circo estava a fazer espectáculos em Nampula. E foram os artista do circo que compraram quase tudo!

24 de fevereiro de 2011

A alma da Casa Dias


À laia de listagem e depois de sondar a família, aqui vão os nomes de muitos dos funcionários que passaram pela Casa Dias, da maioria não sei sequer os apelidos ou pelo contrário os nomes próprios, mas tenho a certeza que muita gente me irá ajudar.
Lurdes (foi a primeira empregada)
Emília, Glória, Filomena, Ilda, Cecília Dias, Ivone Silva, Celso Fidalgo, Dulce Vieira, Fernanda Fidalgo, Maria José Fernandes-Mizé, Silvestre, Adão, Pombinho, Zarina, Conceição Aguiã, Maleca, Suzy, Elizabete, Mussa, Geninha, Pereira, Fernandes, Maria José, Manuel João Queiroz, Gomes, Alina, Jesus, Fernanda, Camilo, Hassane, Mesquita, Aiúpa, Manuel, Silva, Gonçalves, Rentuki, Chico, Saide, Pedro, Momade Ali, António Augusto Martins, Emilia Salgado , Preciosa, Alice Verissimo

Sócios: Acácio Dias, Francisco José Dias, António José da Silva

Agora vou precisar da ajuda de todos vós para completar esta informação.
Gostava de saber, nomes, apelidos, e os que faltam.
Também preciso de ajuda para saber de todas estas pessoas, os que já partiram, e por onde andam os que ainda estão connosco.

23 de fevereiro de 2011

IMAGENS

Hoje não me apetece contar história alguma em particular, por isso vou divagar um pouco sobre imagens/recordações.

Imprescindíveis os figurinos como a Burba, ou a Neue Mode,


ou o look Twiggy que tantas queriam imitar.
Os cabelos ripados dos princípios dos anos sessenta ou os escadeados dos 70.



Os Rapazes com camisas de bordados e calças à bica de sino
ou com uma bela camisa Rosa Negra (especial para os bailes!),
com corte de cabelo a “Beatle”, mais tarde à moda dos Doors.

A Barbie (por curiosidade tem a mesma idade que eu – um pouco mais nova já que “faz anos” a 9 de Março).
Como comentava no outro dia o Dino os famosos carrinhos da Dinky Toys ou Match Box, ou quando os meninos ainda podiam brincar com espingardas de plástico.

E estas bolinhas horrorosas com que brincávamos (que nome tinham?) e com que magoávamos os pulsos???

Para as meninas dos anos 40/50 quantas fizeram concursos de Hula Hoops.

E os concursos de Yo-Yo?? Da Coca-Cola Como não podia deixar de ser!
E para quem se lembra do jingle da rádio "Tudo vai melhor com Coca-Cola, com Coca-Cola grande, pra beber tudo o dia!"

... são apenas recordações que me levam a Nampula.

21 de fevereiro de 2011

QUEM SE LEMBRA?

QUEM SE LEMBRA?
QUEM GANHOU ESTE AUTOMÓVEL EM 1960/61?
A MEMÓRIA DOS MEUS PAIS NÃO ME AJUDOU DESTA VEZ.








20 de fevereiro de 2011

A Sapataria

A Sapataria Dias, nasceu no princípio dos anos sessenta e não chegou aos anos setenta.
Era mesmo ao lado Hotel Portugal, no prédio da Nauticos.






A inauguração da sapataria foi notícia de jornal e teve lugar a um beberete.
As fotos abaixo são do dia da inauguração, onde se podem ver alguns dos convidados, (onde reconheço o Sr. Paulo e Esposa D. Amélia e o Sr. Lopes), assim como o Sr. Fernandes que foi o gerente da sapataria desde que abriu até fechar, e que depois passou para a Camisaria Dias na Av. António Enes, o Sr. Silva e o Sr. Gomes.







Para além destas fotos, aqui vão alguns modelos dos anos 60 que vos trarão algumas recordações.